domingo, 1 de junho de 2008

Conclusão do Mito do "Preste João"

Conclusão do Mito do "Preste João"


Em suma, o mito do “Preste João” influenciou toda a Europa do século XII ao século XIV, e levou-a à descoberta de novas culturas e a novos conhecimentos. Foi somente no século XV, que a Europa localiza e contacta com o até então mítico reino, o qual passa a existir de facto. Deixando de ser a lenda pouco precisa e sonhadora dum reino do tipo de Shambala, dado que para a Europa passou a ser um território soberano, com fronteiras bem demarcadas, o qual, durante o século XV, chegou a enviar embaixadores ao Ocidente, nomeadamente a Roma, e a alguns estados europeus, e de entre eles, a Portugal.

Por outro lado, a hipótese de que a insistente procura do lendário reino do “Preste João” se alicerçava numa política de concepção estratégica de alianças para conquista e domínio do mundo islâmico, não parece ser muito correcta. Primeiro, porque os portugueses tinham como costume fazer e cumprir as suas alianças em toda a parte, independentemente da fé e do credo dos seus parceiros. Então! O que levou os portugueses a querer encontrar o lendário reino do “Preste João”? Para além dos interesses dos círculos da Ordem do Templo já mencionados! Pois bem, o outro factor que é apontado pelos investigadores como sendo o catalizador da procura do reino do “Preste João” foi o comércio. Sabemos que naquele tempo, qualquer contacto entre a Europa e a Etiópia eram difíceis devido à distância e à hostilidade dos povos vizinhos. Por outro lado, sabemos também que apesar dos contactos serem difíceis e perigosos, mesmo assim, houve contacto e comércio nos séculos que precederam a chegada dos portugueses. Há até um registro nos arquivos de Goa, datado de 1130, que dá conta da vinda à Europa dum grupo de 30 etíopes em missão diplomática. E, através deste registo, sabemos que a Europa já tinha há muito tempo conhecimento que o cristianismo etíope era de natureza essencialmente copta, o que reforça os interesses dos círculos iniciáticos da Ordem do Templo, mas que por outro lado, justificam o pouco entusiasmo da Igreja de Roma por aquele reino.

Em suma podemos afirmar que o mito do “Preste João” surgiu como uma desesperada resposta da Europa ao cerco que lhe fora feito pelas forças do Islão. Encontrar um aliado que atrás das linhas inimigas pudesse afrouxar a pressão que aquela sentia, era fundamental e por todos desejável. Esse aliado, de certo modo acabou por ser encontrado nos vários grupos cristãos primitivos do Oriente. Que isolados do mundo Ocidental pelo “império” muçulmano, contribuíram de certo modo para que o reino do “Preste João” fosse localizado nas mais variadas partes do Mundo. Deste modo, aquele lendário reino não foi alheio ao contexto histórico de cada momento. Por exemplo: na altura das Cruzadas predominou a tendência para o localizar na Ásia, enquanto que durante a época dos Descobrimentos, a sua localização tornou-se mais conveniente em África. Mas, tendo aquele mítico reino sido real ou um mero produto da imaginação medieval, o que é certo é que o lendário rei-sacerdote acabou por ser um verdadeiro aliado da cristandade, uma vez que provocou a sistemática procura do seu reino, que sem qualquer dúvida, foi um grande incentivo para o fim da Idade Média e um catalizador para a expansão europeia no Oriente.

Para a Lusitânia, o mítico reino também teve uma grande importância, dado que a chama Lusa veio a iluminar o Mundo. Precisamente a mesma chama que sobrevivera à anexação da antiga Lusitânia pelo Império Romano. A mesma chama, que renascera no século XII, e com a força e com a sabedoria da Ordem do Templo, fundou o reino de Portugal. A mesma chama que pela mão da Ordem de Cristo e dos seus cavaleiros iniciados se expandiu no mundo. A mesma chama que teimou iluminar as décadas do domínio castelhano. A chama que se manteve acesa nos séculos que se seguiram, de governação bem intencionada. Contudo, existem razões para acreditarmos que aquela chama Lusa sobreviverá à integração deste país na união que agora se forma, uma vez que todas as parcelas do mundo lusíada que estão espalhadas pelo globo, pela pátria mãe, continuarão a iluminar e a mostrar o seu caminho. Aliás, a resistência da cultura Lusa face à pretensão da sua integração na Europa, está na simbologia das moedas da própria Europa materialista e carecida de valores morais, onde, a chama Lusa teimou em deixar o seu rasto que dá fé da sua resistência. Pois, face às doze estrelas da bandeira da União Europeia, encontram-se em linha defensiva os sete castelos e os cinco escudos da bandeira portuguesa. Os próprios castelos estão contrários às estrelas e estruturam-se como se fossem uma barreira à Europa materialista, mesmo que simbólica. Por outro lado, no coração da moeda, o símbolo que nos faz recordar o sinal de validação de D. Afonso Henriques, que fora utilizado em 1159 no documento de doação da região de Ceras aos Templários. Ou seja, o símbolo do nascimento de Portugal e da pura integridade Lusa. O núcleo que é defendido pelas torres e pelos escudos pátrios, para que Portugal tenha em cada português a chama Lusa sempre acesa.










O Segredo Exotérico do Mito

O Segredo Exotérico do Mito


Muitos são os documentos que nos dão o testemunho da implicação que a Ordem de Cristo teve no projecto dos Descobrimentos portugueses, nomeadamente, nos quarenta anos em que o Infante D. Henrique governou a Ordem. Aliás, esses documentos possibilitam-nos considerar que a Ordem do Templo foi para os Descobrimentos portugueses tão determinante, como fora nos séculos anteriores a Ordem do Templo para a formação do reino de Portugal. Contudo, embora o Infante D. Henrique se tivesse distinguido como o grande arquitecto e o grande impulsionador da epopeia marítima portuguesa, aquela nunca poderia ter ocorrido, se todo um povo nela não tivesse activamente participado, o que só eleva e engrandece a história de Portugal.

Mas, será possível que um homem modelador de mitos e, um materializador de ideais, enviasse embarcações muito caras e homens altamente qualificados, preparados e treinados, somente para verificar a veracidade duma velha lenda? Ou, será que há uma outra razão, mais forte e secreta, que levou os construtores da epopeia marítima portuguesa a procurar o lendário reino do “Preste João”? A resposta está nos muitos testemunhos daquela época, que retractam e projectam a gesta portuguesa. No entanto, para se compreender convenientemente a verdadeira mensagem de alguns testemunhos, é necessário possuir-se a visão dum iniciado, para ler nas sombras dos livros de pedra as mensagens que poderão desvendar os motivos que despoletaram a gesta dos Descobrimentos portugueses, os quais, surpreendentemente, podem ser bem diferentes do que a História regista e popularizou.

Sem dúvida, que a teimosa persistência na procura daquele mítico reino pelos obreiros dos descobrimentos, apesar dos muitos infrutíferos anseios, das falsas esperanças, e dos desencantos que aquela temerária procura, que por vezes, não deixaria de provocar nos seus intervenientes, leva-nos a crer que houve uma razão oculta, mais forte do que a luz que iluminou os acontecimentos que vieram à ribalta da História. Pelo que para obter-mos uma resposta aceitável, que nos possa desvendar este denso e brumoso mistério, teremos que mergulhar no mais profundo conhecimento hermético das Ordens iniciáticas, e em particular, nos segredos da Ordem de Cristo.

Assim, e à luz desses herméticos conhecimentos, reservados somente aos eleitos, aos esclarecidos e aos iluminados, podemos concluir, que para os herdeiros dos guardiães da Terra Santa da extremidade Ocidental da Europa, encontrar o reino do “Preste João” significava também restabelecer o contacto com o Templo eterno da Sabedoria. Através do qual, procuravam salvar o Ocidente da catástrofe que fora a destruição do seu próprio Templo, dado que com a chegada das trevas medievais, a luz do mundo clássico se apagou e, com o manto da escuridão se cobriu a sabedoria esotérica e o saber profundo. Pelo que os mistérios passassem a refugiar-se no Oriente, deixando assim, o Ocidente órfão da sua tradição hermética.

Assim, com aquela luz hermética a alumiar os acontecimentos Históricos, verificamos que a procura intensa e sistemática do reino do “Preste João”, tem três possíveis níveis de leitura, que estão muito relacionados com os três círculos da Ordem do Templo. São eles: o Círculo Exterior, o Círculo Intermédio e o Círculo Interior. Podemos extrapolar, que o Círculo Interior, coração do mistério da Ordem, estava mais relacionado com o campo esotérico desta, e por conseguinte, terá sido fundamentalmente composto pelos Templários que foram iniciados no Oriente. A sua estrutura hierárquica, fora provavelmente formal e externa à Ordem. Podemos também considerar que os seus membros procuravam reconstruir o Templo destruído, e que por esta razão, este círculo tinha como ambição encontrar o mítico reino do “Preste João”, para reatar os laços perdidos com os seus mestres orientais. Na verdade, este círculo tinha a perfeita consciência que ao incentivar a procura do mítico reino do “Preste João”, a cobiça e o desejo de aventura que aquela lenda provocaria a longo prazo, faria com que fosse inevitável o contacto dos europeus com outros territórios, com outras culturas, com outras experiências e outros conhecimentos. Factores que inevitavelmente fariam com que a Europa saísse das trevas medievais.

Por sua vez, o círculo intermédio, semi-esotérico, cujos membros deveriam conhecer somente certos mistérios do Templo, e por essa razão, deveriam participar em rituais precisos e muito específicos da Ordem, ansiavam pelo retorno à pureza das virtudes, e à santidade das acções. Assim, tinham como principal objectivo, o contacto com as comunidades cristãs que ainda professassem um cristianismo primitivo e gnóstico, o qual, por estar ainda num estado puro, sem a nefasta erosão que a riqueza e o poder temporal provoca nos homens, este círculo pensava que através do contacto com aqueles cristãos, recuperariam os princípios da bondade e da tolerância, tão ausentes na comunidade cristã daquela época.

Por outro lado, o Círculo Exterior, que como se sabe, com a criação da Ordem de Cristo praticamente ficou inalterado, tinha um objectivo político muito concreto e muito preciso, que se traduzia no desejo da realização duma aliança com o poderoso reino do “Preste João”, a fim de em duas frentes de combate, dar luta sem quartel aos muçulmanos, a fim de destruírem o seu predomínio no Oriente, e definitivamente reconquistarem a Terra Santa, e com esta conquista, acabarem com a sua permanente ameaça à Europa.

Assim, com estes interesses bem definidos em cada círculo da Ordem de Cristo, os seus membros abraçaram o projecto dos Descobrimentos portugueses como se fossem um desígnio divino para a própria Ordem e para todos aqueles que nele se envolvessem. Pelo que, homens de grande visão e, de grande capacidade organizativa, lideraram um trabalho metódico e continuado de cerca de oito décadas. Fazendo com que pela primeira vez na história da humanidade, a ciência passasse a ser entendida por uma "visão directa" dos factos, seguida de uma descrição dos fenómenos observados, na medida que através duma parceria entre as experiências adquiridas no mar e os estudos obtidos em terra, fora possível aos portugueses atingirem o seu objectivo épico e sem igual na história da humanidade.

Na verdade, qualquer um dos secretos objectivos mencionados, não deixa de ser um feito ousado e temerário para aquela época, dado que aqueles conturbados tempos, também foram os tempos que testemunharam as acções da "Santa" Inquisição contra os Cátaros, os quais, durante a Idade Média tardia, foram os únicos a ostentar uma igreja organizada, e capaz de enfrentar o poderio de Roma. Por conseguinte, os objectivos dos portugueses, nunca poderiam ter a aprovação do Papa. Pois, aquele nunca poderia ver com bons olhos uma aliança dos portugueses com um reino Copta, uma vez que aquele reino nunca iria aceitar que a cadeira chamada de São Pedro, em Roma, fosse o trono de todas as igrejas cristãs. Por outro lado, a Santa Sé tinha fortes e justificadas suspeitas, de que a gigante força militar e económica deste pequeno grande reino, ainda guardava conhecimentos e directrizes Templárias, contrarias aos pensamentos evangélicos de Roma. Logo, como poderia aquela Igreja aceitar o projecto épico de Portugal?

Na verdade, o plano do Infante D. Henrique, que se entrelaçava num dos círculos da Ordem do Templo, era encontrar o reino do “Preste João”, a fim de promover uma renovação na Cristandade europeia, conquistar os muçulmanos e estabelecer a harmonia entre os povos do mundo. Contudo, o projecto duma nova Cristandade nunca viria a ser concretizado, uma vez que a consciência europeia ainda estava imatura para tão ousado projecto. Pois, em vez de seguir os impulsos espirituais e, simultaneamente, adquirir uma nova consciência e oferecer de presente ao novo mundo, os navegadores europeus arrebataram-no e saquearam-no. Aliás, o maior exemplo dessa imaturidade, foram os feitos de Cortez, o primeiro dos europeus responsável pela conquista do novo mundo do modo mais brutal, mais hediondo e mais selvagem que se possa imaginar. Aquela época que foi glorificada por muitos historiadores como tendo sido a época das grandes conquistas da Europa, fez com que aquelas terminassem com a quase total exterminação de muitos povos indígenas americanos e a extinção de muitas culturas.

Todavia, depois dos jesuítas terem considerado o reino da Abissínia como sendo um falso reino do “Preste João”, aquele reino ainda não foi encontrado e, talvez nem venha a ser encontrado na Terra. Embora haja uma esperança que aquele mítico reino possa vir a ser alcançado e encontrado por aqueles que desenvolvem na força espiritual a visão da existência daquele lendário reino. E quiçá, através da onírica visão dos iluminados, se consiga localizar aquele mítico reino e, com essa descoberta, se possa trazer de volta as dádivas espirituais daquele reino. Pelo que continua a ser necessário conduzir a espécie humana a dar um passo em direcção à casa do espírito. Por isso, para além dos sonhos e das fantasias de criança, não há dúvida que o reino do “Preste João” existe em cada um de nós, principalmente, na forma da tolerância, no desejo de liberdade e na procura da senda do Bem.

Por outro lado, embora o caminho que nos conduz àquele lendário reino ainda esteja a ser procurado. Sabemos que através da navegação espiritual, que está à disposição dos iniciados, as viagens até àquele lendário reino continuam a ser feitas numa forma sistemática e continuada. Pelo que a descoberta do verdadeiro caminho, talvez não esteja muito distante dos nossos dias. Por isso, talvez não tenhamos que esperar muito até que os reais tesouros do reino do “Preste João” possam ser repartidos pela humanidade. Na verdade, a Nova Ordem Mundial que se avizinha. O Templo da Sabedoria que no dia a dia se constrói, fará com que através do conhecimento, a humanidade definitivamente se liberte de todas as formas de escravatura, de miséria e de sofrimento e, que entre numa outra realidade cósmica.

Os Contactos de Portugal com o reino da Abissínia

Os Contactos de Portugal com o reino da Abissínia

Depois de tantos sacrifícios em vidas e em riquezas perdidas, o caminho marítimo para a índia foi finalmente descoberto por Vasco da Gama, que nessa intrépida e gloriosa viagem de descoberta, numa providencial escala em Melinde, na costa Oriental Africana, os portugueses vieram a conhecer terras que bem poderiam ser do “Preste João”, uma vez que foram muito bem recebidos pelo sultão local. Aliás, consta-se até que os portugueses ficaram muito bem impressionados com o fausto que encontraram na corte do rei de Melinde, e em particular, com o seu majestoso porte. Pelo que através dessa recepção, os portugueses ficaram convencidos que estavam em terras do “Preste João”. Na verdade, naquele acolhimento houve até um episódio muito singular, que contribuiu para que os portugueses ficassem ainda mais convencidos de que tinham ancorado em frente a terras do “Preste João”, dado que em determinado momento, por engano, os indígenas inclinaram-se perante um altar existente num dos navios, levando os marinheiros portugueses a concluírem que se encontravam perante um povo cristão. E, muito provavelmente, os indígenas julgaram que os portugueses eram hindus. Pelo que o entusiasmo nos dois povos explodiu em recíprocas aclamações de júbilo e contentamento. Porém, quando Vasco da Gama foi saudado por aquele povo com os gritos “Krishna! Krishna!”, que deve ter soado aos ouvidos dos portugueses como Cristo! Cristo! O entusiasmo dos marinheiros portugueses chegou ao rubro, uma vez que aquelas saudações eram sinais evidentes de que tinham aportado em terras do “Preste João”. Mas, como aquelas terras localizavam-se um pouco mais para o sul do que a cartografia portuguesa registava, surgiu pela primeira vez nos portugueses dúvidas se o rei de Melinde seria, ou não, um vassalo do rei-sacerdote?

Na verdade, durante o reinado de D. Manuel I, o rei que sucedeu ao grande D. João II, o envolvimento dos portugueses com o reino do “Preste João” foi intenso. Aliás, foi naquele reinado que se obteve o real conhecimento da existência do reino da Abissínia e, a Europa veio a reconhecer como sendo aquele reino, o reino do “Preste João” há muito procurado por esta. De facto, D. Manuel I veio a envolver-se a tal ponto com aquele reino copta, que chegou mesmo a oferecer ao seu négus uma tipografia completa, com maquinaria e mestres. Aliás, um presente que não deixa de ser muito curioso, uma vez que nos mostra claramente quanto aquele monarca tinha em conta o poder da Igreja de Roma. Pois, se tivermos em consideração que aquele monarca era copta e, que por consequência da sua orientação religiosa, tinha outras interpretações sobre o primitivo cristianismo, as quais, eram bem diferentes das opiniões e práticas de Roma. Pelo que a oferta de D. Manuel I àquele monarca deixa-nos muitas interrogações quanto ao seu real interesse. E, tanto mais que desde os meados do século XV, data em que Gutemberg inventou a fundição de caracteres e a composição tipográfica, todos os monarcas da Europa ambicionavam possuir uma daquelas oficinas impressoras, uma vez que a arte de imprimir permitia que a divulgação de conhecimentos fosse muito mais rápida do que a cópia de livros por mãos hábeis e pacientes dos monges, como até ai se divulgava toda a informação. Assim, por esta razão, as oficinas tipográficas passaram a ter um controlo apertado e uma censura prévia por parte da Igreja, sem a qual, nada podia ser impresso. Aliás, por nós é bem conhecido a necessidade que houve do parecer do Santo Ofício para a publicação em 1572 do épico livro de “os Lusíadas”. Pelo que a oferta de D. Manuel I àquele rei copta não deixa de ser curiosa, e muito elucidativa do poder de Portugal, dado que proporcionaria àquele monarca a possibilidade de divulgar rapidamente os seus conhecimentos, que como foi referido, eram contrários aos da igreja de Roma e, que ainda por cima, esta Igreja ficaria impossibilitada de exercer qualquer controlo na informação que seria produzida. Pelo que a oferta para além de ser curiosa, no mínimo é estranha, porque como foi referido, na Abissínia praticava-se um cristianismo Jacobita, ligado à Igreja copta do Egipto., que reconhecia como autoridade suprema, o patriarca de Alexandria e não o Papa.

Assim, através desta oferta de D. Manuel I ao rei da Abissínia, poderemos concluir que Portugal no século XV, mantinha um grande interesse no reino cristão da Abissínia e, muito provavelmente, porque aquele reino ocupava uma grande área a Sul do Egipto, podendo por isso oferecer aos portugueses e aos desígnios lusitanos uma importante localização estratégica para a expansão do domínio Lusitano. Dado que uma aliança com aquele reino copta, proporcionaria aos portugueses uma importante base de apoio na África Oriental. E tanto mais, que com o novo conhecimento cartográfico, se passou a admitir que aquela localização não representava uma distância da África Ocidental muito considerável.

Na realidade, durante o século XV, os portugueses mantiveram frequentes contactos com o reino da Abissínia, dos quais um se regista: Em 1509, a imperatriz Helena, que governava na altura aquele reino copta, escreveu a D. Manuel I propondo uma aliança assente numa política de casamentos entre os dois reinos. Aliás, naquela missiva, a imperatriz mostrava ter um bom conhecimento dos feitos portugueses na Índia, que para ela mais pareciam milagres do que acções humanas. Assim, dessa missiva podemos retirar que por consequência do poderio bélico de Portugal, aquela imperatriz que governava um conjunto de pequenos reinos, os quais viviam na época um momento de algum florescimento da sua cultura viria a propor aos portugueses uma aliança militar.

Sem dúvidas que a proposta de tal aliança foi motivada pela força, pela determinação e pela ousadia que os portugueses mostraram ao mundo. Aliás, o poderio que Portugal ostentava ao mundo, deixou-lhe a ideia de que os portugueses queriam assumir no Oriente um lugar de maior relevo do que a própria Igreja Bizantina, o que o espantou, dado que ainda não havia muito tempo, Constantinopla tinha sido expulsa por ter feito frente a Roma.

Em face do exposto, podemos considerar que aquele século foi um século de grande aflição para a Santa Sé. E tanto mais que por volta da mesma altura, chegaram-lhe notícias que davam conta de que um abade alemão, a quem tinham encomendado estudos científicos sobre a Bíblia, não só a traduzira para a língua alemã, o que a tornava compreensível para milhões de cristãos da Europa Central, como também criticara diversos aspectos da Igreja de Roma, nomeadamente a venda das bulas de perdão, tão necessárias para o financiamento das grandes construções em Roma. Pelo que tudo parecia negro para a Santa Sé, uma vez que foi também por volta da mesma época, que lhe surgiu outra catastrófica notícia: os portugueses tinham descoberto os cristãos de S. Tomé, na costa do Malabar. E, constataram que se tratava duma igreja cristã que se manteve na Índia desde os primeiros séculos da nossa era. E, que praticava ainda um culto ligado a um dos discípulos de Cristo, precisamente o do apóstolo são Tomé. Verificaram também, que até tinham um importante local religioso onde veneravam os restos mortais daquele apóstolo.

Perante a hecatombe que ameaçava cair sobre os céus de Roma, outros ventos de ameaça pairavam também sobre aquela cidade. Pois, para além de D. Manuel I pretender tornar-se no rei de Espanha, e para isso tudo fez, uma vez que casou com duas filhas dos reis de Espanha, e expulsou os judeus de Portugal somente para lhes agradar, planeava também com a sua política imperial de domínio e controlo do mundo, uma Cruzada ao Médio Oriente para reconquistar Jerusalém. Pelo que propôs ao Papa a sua intenção de Cruzada. O que originou na Igreja o receio do renascimento do velho poder Templário. Em face deste receio, o pontífice apressou-se a rejeitar tal intenção, como proibiu aos outros monarcas da Europa ajudarem os portugueses neste temerário e ousado intento. Mas, a grandeza de Portugal no século XVI era de tal modo impressionante, que apesar desta contrariedade, o rei D. Manuel I mesmo sem ajuda papal, ou de qualquer outra nação europeia, ostensivamente se prontificou a levar por diante tal Cruzada. E, para reforçar o seu poderio militar, o négus da Abissínia comprometeu-se a o ajudar com três mil cavalos, ao mesmo tempo que Afonso de Albuquerque se comprometeu a enviar-lhe outros tantos homens, o domínio da pérsia e, o desvio do curso natural do rio Nilo, a fim de empobrecer e fragilizar todo aquele território.

Perante tão grandes e temerários feitos, devemos nos interrogar, que força divina imbuía as gentes desta pequena grande Nação, a fazer frente à própria Igreja de Roma? Que chama dourada adornava as cabeças lusíadas, que ousavam combater exércitos superiores em número de homens e, até modificar a própria Natureza? Sem dúvidas que só poderia ser uma força inspirada pelo divino e pelo sobrenatural!

O perigo de Portugal e o reino copta da Abissínia saírem os grandes vitoriosos desta Cruzada, tornou-se mais do que evidente e mais do que provável. Roma tremeu perante tão grande poder. Roma assustou-se por tão grande coragem e tão grande determinação. Porém, o destino veio a conceder a Roma um milagre. Afonso de Albuquerque, a quem chamavam o leão dos mares, morre, como também, pouco tempo depois morre o négus da Abissínia, a quem chamavam o leão da montanha. E, pouco tempo depois morre D. Manuel I, o Venturoso. O monarca que esteve preste a ser o rei do Mundo.

Com a morte de D. Manuel I, chega pela mão de D. João III ao trono de Portugal, a mediocridade que teima em prevalecer até aos nossos dias, a qual fará com que a filosofia da expansão portuguesa viesse a mudar radicalmente, e com esta mudança estratégica o poder de Portugal no mundo entra no crepúsculo. Assim, com a mediocridade instalada na corte de Portugal, este pequeno grande reino veio a desistir do projecto da reconquista de Jerusalém e, com o fim deste sonho, os interesses portugueses no Oriente deslocaram-se mais para o extremo Oriente. Por sua vez, com o fim do sonho Templário e o ascendente dos Jesuítas nas missões do além-mar, a convivência fraterna entre os dois estados com versões diferentes de cristianismo, também veio significativamente a alterar-se. Aliás, a postura fundamentalista dos jesuítas fez com que no século XVII, viessem a ser expulsos do reino da Abissínia. Principalmente, porque não respeitaram as convicções religiosas daquele reino e, insistiram em impor um o catolicismo no territótio etíope. A partir deste acontecimento, toda a propaganda jesuítica foi no sentido de desvalorizar a importância histórica e estratégica da Abissínia cristã e considerá-la como um falso reibo do “Preste João”. Pelo que os jesuítas passaram a persistir na procura daquele lendário reino, agora por territórios da Ásia. Porém, sendo aquela Ordem exclusivista, jamais encontrariam aquele mítico reino. E tanto mais que para o encontrarem precisavam da chave esotérica do mito, que lhes faltava.

Na verdade, as relações dos portugueses com o reino da Abissínia, trouxe o conhecimento de que aquele reino não era o império magnificente do “Preste João” do mito, mas também não era tão atrasado como certa historiografia o faz crer. Contudo, uma série de contratempos e muitas contrariedades levou a que nunca se realizasse entre os dois reinos, a tão ansiada aliança. Houve até um acontecimento no final da segunda década do século XVI, que veio a contribuir para o arrefecimento das relações entre os dois povos. Nomeadamente quando o négus David, o novo monarca da Abissínia, enviou um emissário chamado Zaga Zabo a Portugal. Que mostrou ser um embaixador instruído e muito sensato. Mas, apesar daquele embaixador ter sublimes qualidades diplomáticas, acabou por sofrer a intolerância da corte do piedoso, tão distante do príncipe perfeito. Pois, no reinado de D. João III, a filosofia da expansão portuguesa começava a sofrer mudanças radicais. Antes, o cristianismo copta dos abissínios nunca tinha sido um motivo de conflito para os portugueses. Portugal chegou mesmo em 1541-1542 a socorrer aquele reino. Quando D. Cristóvão da Gama, filho do descobridor da Índia, à testa de 400 voluntários portugueses salvou o négus Cláudio duma irrupção muçulmana local, que apoiadas pelos turcos, agora senhores da Arábia e do Egipto, ameaçavam a segurança e a estabilidade daquele reino. Aliás, aquela ajuda veio a ser um acontecimento que nunca fora esperado pelos portugueses, uma vez que ao contrário do que fora idealizado por estes, era a vez do “Preste João” pedir a ajuda ao mundo Ocidental e, em particular a Portugal. D. Cristóvão da Gama acabou por morrer naquela temerária e heróica missão, e por isso não conheceu o triunfo português da missão, uma vez que no final daquela campanha, os muçulmanos retiraram.

Em suma, no século XV, com o conhecimento marítimo e cartográfico de Portugal, o poderio deste pequeno grande reino foi imenso. Dum pequeno reino marginalizado pela Europa, transformou-se numa potência militar e económica impar e sem igual, com grandes quantidades do mais sofisticado armamento, com os homens de mentes mais notáveis, com a capacidade de envio das suas forças militares para qualquer parte do globo, e com uma riqueza colossal que provinha do comércio e da exploração dos territórios recém descobertos. Mas, tal gigantismo de Portugal não teria sido possível, se os portugueses não detivessem alguns conhecimentos provenientes do “tesouro” Templário. Pois, embora o Infante D. Henrique fosse um homem excepcional, um homem de vontade férrea, e um homem que soube rodear-se da melhor elite naval e científica daquele tempo, nada poderia ter realizado se não tivesse os saberes da inquebrantável milícia de Cristo, herdeira dos mistérios do Templo. Razões, porque os capitães das suas naus foram também cavaleiros daquela Ordem, e nas velas bojarronas dos navios de Portugal foram pintadas a cruz da Ordem de Cristo, como mensageira do renascimento do pensamento Templário.

Mas, o segredo Templário não foi o bastante para projectar a grandeza desta grande Nação. Pois, esta também não teria sido possível, se os grandes nomes da nossa história não contassem com a energia mágica e divina que os portugueses transportam desde o tempo de Viriato, e que os grandes líderes sempre souberam despoletar nos lusitanos. Razão, porque os cavaleiros Templários, iniciados nos mistérios da guerra, se deram tão bem em Portugal. Como também, pela mesma razão, a Ordem de Cristo soube perpetuar nos portugueses o espírito da luz divina em prol dum ideal. Na verdade, os portugueses sob uma liderança forte e determinada, são capazes das maiores façanhas, astúcias e as mais arrojadas acções em qualquer domínio da vida humana. Assim, foi a Força Lusa que levou nos séculos XIV e XV a concretizar e a desvendar o mito do “Preste João” e a desbravar os bravios, traiçoeiros e desconhecidos oceanos. Pelo que em reconhecimento das dificuldades sofridas por estas gerações de homens que nos antecederam e em homenagem aos seus grandes feitos, curvemo-nos perante o seu valor, e meditemos sobre as palavras de Fernando Pessoa:

Ó MAR SALGADO, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão resaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena?
Tudo vale a penaSe a alma não é pequena.
Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor
Deus ao mar o perigo e o abysmo deu,
Mas nelle é que espelhou o céu.

Os "Lançados"

Os “Lançados”


O envio de espiões ao Médio Oriente e à Índia para localização do reino do “Preste João” e obtenção de conhecimentos sobre a navegabilidade do oceano Índico, não ficou limitada apenas aos nomes dos que a história sobe honrar e perpetuar nos tempos, muitos foram os “lançados” que ficarão para sempre incógnitos das páginas da nossa história. Na medida que se sabe, que em 1487, D. João II enviou na frota de Bartolomeu Dias quatro mulheres africanas, com a missão de encontrarem o mítico reino do “Preste João”. Sabe-se que três desembarcaram em diversos pontos da África Ocidental, e a outra fora desembarcada já nas costas da África Oriental, banhada pelo oceano Índico. Outras mais foram “lançadas” nas costas Africanas sem qualquer registo ou prova que o atestem. De certo modo sabe-se que D. João II preferia “lançar” mulheres naquelas desconhecidas paragens, pois contava que por serem mulheres, os indígenas não lhe fariam mal, e por outro lado, apostava fortemente na intuição feminina para o cumprimento daquela difícil missão. Por esta razão, em 1492, ao abrigo da política diplomática e imperial de D. João II, foram enviadas mais quatro mulheres, desta vez portuguesas, com a mesma finalidade e com o mesmo objectivo. Aliás, a estratégia dos “lançados” era uma prática comum na política das Descobertas, uma vez que sendo os contactos com os indígenas, geralmente hostis e belicosos, ditava a prudência que as barcas e, mais tarde as caravelas, ficassem ao largo e que se lançasse à água um batel com um ou dou dois degredados para irem ao encontro daqueles, a fim de obterem as mais variadas informações.

Muitos foram os degredados que embarcaram nas naus portuguesas com o fim de virem a ser “lançados” em desconhecidos territórios. Aliás, Pêro Vaz de Caminha menciona na carta que escreveu ao rei D. Manuel I, em Porto Seguro, a um de Maio de 1500, os “lançados” que ficariam naquele porto quando dele levantassem ancora. Na verdade, os “lançados” não eram mais do que pobres homens, ou infelizes mulheres que tiveram o azar de cair nas malhas da justiça, que os condenou ao degredo, pelo que para cumprimento da pena, seriam “lançados” isoladamente em determinados lugares da costa inóspita e desconhecida, a fim de penetrarem no interior para recolherem informações sobre a geografia física, redes comerciais, organização politica e, religião dos povos que aí habitassem, bem como todas as informações que viessem a ser úteis à estratégia imperial da coroa portuguesa.

Alguns portugueses livres, a quem o espírito de aventura os impelia para aquele tipo de missões, também se voluntariaram para aquele tipo de missões. No entanto, apesar dos muitos perigos e das muitas incertezas que a sobrevivência acarretava, alguns “lançados” conseguiram resistir às difíceis condições climatéricas, às feras, às doenças e a todas as calamidades existentes naqueles desconhecidos territórios. Aliás, há conhecimento que alguns que conseguiram adaptar-se muito bem aos hábitos da população local, e com facilidade, chegaram mesmo a aprender a língua indígena. Pois, existem registos de cartas de alforria por serviços prestados a D. João II, que dão conta desses poucos sucessos.

Mas, geralmente ao degredado esperava-o os maiores horrores, as maiores incertezas, e até provavelmente o conhecimento do verdadeiro inferno. Toda a gente temia tal castigo e, lamentava profundamente quem o tivesse como pena.

Por sua vez, o envio de espiões ao Médio Oriente e à Índia para localização do reino do “Preste João” e obtenção de conhecimentos sobre a navegabilidade do oceano Índico, não ficou limitada apenas aos nomes dos que a história sobe honrar e perpetuar nos tempos, muitos foram os “lançados” que ficarão para sempre incógnitos das páginas da nossa história. Na medida que se sabe, que em 1487, D. João II enviou na frota de Bartolomeu Dias quatro mulheres africanas, com a missão de encontrarem o mítico reino do “Preste João”. Sabe-se também, que três desembarcaram em diversos pontos da África Ocidental, e a outra fora desembarcada já nas costas da África Oriental, banhada pelo oceano Índico. Outras mais foram “lançadas” nas costas Africanas sem qualquer registo ou prova que o atestem. Porém, de certo modo sabe-se que D. João II preferia “lançar” mulheres naquelas desconhecidas paragens, pois contava que por serem mulheres, os indígenas não lhe fariam mal, e por outro lado, apostava fortemente na intuição feminina para o cumprimento daquela difícil missão. Por esta razão, em 1492, ao abrigo da política diplomática e imperial de D. João II, foram enviadas mais quatro mulheres, desta vez portuguesas, com a mesma finalidade e com o mesmo objectivo. Aliás, a estratégia dos “lançados” era uma prática comum na política das Descobertas, uma vez que sendo os contactos com os indígenas, geralmente hostis e belicosos, ditava a prudência que as barcas e, mais tarde as caravelas, ficassem ao largo e que se lançasse à água um batel com um ou dou dois degredados para irem ao encontro daqueles, a fim de obterem as mais variadas informações.

Muitos foram os degredados que embarcaram nas naus portuguesas com o fim de virem a ser “lançados” em desconhecidos territórios. Aliás, Pêro Vaz de Caminha menciona na carta que escreveu ao rei D. Manuel I, em Porto Seguro, a um de Maio de 1500, os “lançados” que ficariam naquele porto quando dele levantassem ancora. Na verdade, os “lançados” não eram mais do que pobres homens, ou infelizes mulheres que tiveram o azar de cair nas malhas da justiça, que os condenou ao degredo e aos medos da época, pelo que para cumprimento da pena, seriam “lançados” isoladamente em determinados lugares da costa inóspita e desconhecida, a fim de penetrarem no interior para recolherem informações sobre a geografia física, redes comerciais, organização politica e, religião dos povos que aí habitassem, bem como todas as informações que viessem a ser úteis à estratégia imperial da coroa portuguesa.

Alguns portugueses livres, a quem o espírito de aventura os impelia para aquele tipo de missões, também se voluntariaram para aquele tipo de missões. No entanto, apesar dos muitos perigos e das muitas incertezas que a sobrevivência acarretava, alguns “lançados” conseguiram resistir às difíceis condições climatéricas, às feras, às doenças e a todas as calamidades existentes naquelas desconhecidas regiões. Aliás, há conhecimento que alguns “lançados” conseguiram adaptar-se muito bem aos hábitos da população local, e com facilidade, chegaram mesmo a aprender a língua indígena. Como foi o caso dos “lançados” pelo capitão Cid Barbudo, quando a mando de D. Manuel I procurava perto da aguada de São Brás as tripulações das naus de Francisco de Albuquerque e de Pêro de Mendonça que se julgavam perdidas na região do cabo da Boa Esperança. Conforme instruções recebidas do próprio rei, o capitão Cid “lançou” a terra dois degradados, para no interior procurarem novas sobre os náufragos. Cumprindo as instruções recebidas, o capitão esperaria oito dias pelos degradados e, como não veio novas dos “lançados”, os navios saíram daquelas paragens, abandonando os “lançados” à sua sorte. E, um deles até teve muita sorte, uma vez que foi ter à Índia, fez-se turco e, em 1512, aquando da tomada de Goa, apresentou-se a Afonso de Albuquerque e serviu-lhe de intérprete. Aliás, destes poucos sucessos, dão-nos conta os registos de cartas de alforria por serviços prestados a D. João II.

Mas, na generalidade, ao degredado esperava-o os maiores horrores, as maiores incertezas, os maiores medos de míticos e lendários monstros e, o conhecimento do verdadeiro inferno. Em suma, toda a gente temia tal castigo e, lamentava profundamente quem o tivesse como pena. No entanto foram estes anónimos e forçados exploradores que alicerçaram a grande epopeia Lusitana e tornaram possível a realização épica dos Descobrimentos.

A Procura do Mito

A Procura do Mito

Se a grande impulsionadora dos Descobrimentos marítimos foi a casa senhorial do infante D. Henrique e, em particular a Ordem de Cristo, foi no reinado de D. Afonso V que aquele projecto passou a ser considerado um desígnio nacional, que por essa mesma razão, passou a ser directamente dirigido pela casa real. No entanto, apesar da mudança política entretanto havida, a Ordem de Cristo manteve neste reinado todas as responsabilidades e prerrogativas que até então lhe coubera. Contudo, foi através do filho de D. Afonso V, que viria a ser o rei D João II de Portugal, que o projecto henriquino viria a tomar forma e um gigantesco impulso, como também, foi neste reinado que se intensificou a procura do mítico reino do “Preste João”.

Na verdade, D. João II, que ficou imortalizado na História como sendo o “Príncipe Perfeito”, cognome adequado, uma vez que este monarca se notabilizou como sendo um político arguto e de qualidades excepcionais para o seu tempo. E, como tal, sabia muito bem, que as navegações e a descoberta de novas terras estavam em bom ritmo e que depois dos portugueses contornarem o continente Africano, iriam ter sérios problemas com a navegação no oceano Índico. Principalmente, pelo desconhecimento que os portugueses tinham daquela distante região do globo, fortemente dominada pelos muçulmanos, naturais adversários de toda a Europa cristã.

Por outro lado, as teorias geográficas que proliferavam na época, ainda dominadas pela geografia de Cláudio Ptolomeu, que davam conta, ser aquele continente Africano menos extenso em longitude do que na realidade era, viriam a criar a expectativa nos portugueses de que se podia atingir o reino do “Preste João” por via fluvial. Na verdade, devido à cartografia então conhecida, a qual era destorcida, onírica e pouco precisa, deu a ilusão aos portugueses, que se os navios portugueses subissem os grandes rios africanos, aqueles navegariam directamente para a Índia, e que por aquela via, Portugal podia rapidamente e facilmente participar no lucrativo comércio das especiarias.

No entanto, perante os conhecimentos cartográficos que iam sendo adquiridos pelas sucessivas expedições de exploração marítima, fez com que D João II viesse a duvidar do conhecimento geográfico de Ptolomeu, o mais famoso cosmógrafo da antiguidade clássica, que durante 14 séculos ninguém tinha ousado contestar. Pelo que em 1481, num momento de extrema importância para a política de expansão do Atlântico Sul, dado que paralelamente com a construção da fortaleza de S. Jorge da Mina, D. João II decidiu continuar as explorações além do cabo de Santa Catarina, afim de corrigir o conhecimento cartográfico existente e, certificar-se se por via fluvial podia, ou não, atingir a Índia e o reino do “Preste João”.

Assim, tudo nos leva a admitir, que foi com esta ideia em mente, que em 1486, D. João II enviou Diogo Cão à foz do Congo. O qual, no cumprimento das ordens régias, subiu aquele grande rio. Sabe-se, que naquela expedição, Diogo Cão encontrou nativos amigáveis e permeáveis à fé cristã, o que o fez supor, serem aqueles governados por um poderoso rei, que residia mais para o interior do continente.

Por sua vez, é do conhecimento histórico, que para adquirir um maior saber sobre aquela região, Diogo Cão ordenou o embarque de alguns daqueles nativos “amigáveis”, a fim dos interrogar e de os ocidentalizar. Como pela mesma fonte também se sabe, que o Navegador enviou mensageiros e presentes ao potentado negro local, a fim de através daquele gesto manifestar as suas pacíficas intenções. Contudo, não se deteve por muito tempo naquelas paragens, e decidiu prosseguir viagem mais para o Sul, contornando a costa, e acabou por atingir aquilo que julgou ser o extremo meridional da África. Um erro que lhe valeria mais tarde cair em desgraça, uma vez que a partir daquela data, a história não faz mais qualquer referência ao intrépido Navegador. Retornando à expedição de Diogo Cão, sabe-se que o Navegador veio a regressar ao Congo, depois de decorridas 15 luas. E, que nesse seu retorno, enviou ao rei negro quatro dos nativos que havia embarcado à sua chegada àquelas paragens, já trajados à portuguesa e, já com alguns rudimentares conhecimentos da língua portuguesa. Na verdade, aqueles nativos meio ocidentalizados, vieram a ser os primeiros embaixadores da civilização lusitana naquela desconhecida terra. Sabe-se também, que o monarca daquelas paragens ficou encantado por ouvir da boca dos seus súbitos notícias precisas a respeito dos estrangeiros, que o levaram a encetar amistosas relações com os portugueses, que viriam a perdurar durante séculos.

Contudo, foi na mesma época, que um tal João Afonso de Aveiro regressou de Benim, onde estabelecera uma feitoria comercial, e relatou ao rei D. João II, que “a vinte meses de jornada a partir da costa, vivia um rei que era venerado pela sua gente, de maneira igual àquela como o papa é venerado pelos cristãos católicos. Desse relato resultou para D. João II a certeza de que aquele reino muito provavelmente seria a mítica terra do “Preste João”, uma vez que uma jornada de vinte meses corresponderia na época a um percurso de cerca de 1800 km. Distância aproximada a que estava o antigo reino da Abissínia.

Assim, com a notícia de João Afonso de Aveiro, uma nova onda de esperança de se poder encontrar o mítico reino varreu as mentes de toda a Lusitânia. Pelo que, em 1487, o rei D. João II resolve tirar aquela informação a limpo. Por isso, manda que por terra alguns dos seus espiões marchem para o Oriente, a fim de obterem novas, quer do lendário reino do “Preste João”, quer da navegabilidade do oceano Índico. Porém, ao mesmo tempo que recorre a espiões, ordena também a Bartolomeu Dias, seu Navegador e seu Escudeiro, que verifique se a África está ou não ligada à Terra Austral. Ou seja, aquele monarca pretendia saber se por mar era, ou não, possível contornar a África e alcançar a Índia.

Contudo, com o objectivo de obter tais informações, antes do grande feito de Bartolomeu Dias se realizar, aquele rei enviou Frei António de Lisboa e Pêro de Montarroio, com a missão de no norte de África obterem as tão desejadas informações sobre o reino do “Preste João” e sobre a navegabilidade do oceano Índico. Missão que aqueles agentes do rei vieram a falhar, principalmente porque não falavam o idioma árabe. Por conseguinte, foi no mesmo ano em que Bartolomeu Dias venceu o Cabo da Boa Esperança, que D. João II, voltou a insistir na estratégia de enviar espiões para obtenção de informações sobre o mítico reino. Pelo que envia por terra mais outros dois espiões, Pêro da Covilhã e Afonso de Paiva. Mas, desta vez, submetera os seus agentes a uma meticulosa preparação secreta. Aliás, Pêro da Covilhã já tinha cumprido diversos serviços secretos no estrangeiro, tanto ao serviço de seu pai, D. Afonso V ,como ao seu próprio serviço.

Sabe-se que a missão de espionagem consistia em: que Afonso de Paiva deveria encontrar o lendário reino do “Preste João”, obter informações sobre a geografia da região junto dos marinheiros daquela zona, nomeadamente sobre a ligação entre o oceano Índico e o oceano Atlântico. E que Pêro da Covilhã deveria na Índia obter todas as informações que fossem importantes e relevantes ao plano das Índias. Deveria por isso obter conhecimento do local exacto da produção e comercialização das especiarias, como deveria saber, qual era a distância entre o extremo sul da África e os portos mais importantes da Índia. Por outro lado, também lhe coube a missão de obter informações sobre a existência de cristãos no Oriente.

Pêro da Covilhã veio a cumprir escrupulosamente a missão que lhe fora confiada, passou pelo mar Vermelho, pelo Golfo Pérsico e foi até Sofala, que se situava no sul de África, no lado do Índico. Quatro anos depois de ter iniciado a sua importante missão, regressou ao Cairo, cidade onde veio a saber por dois emissários do rei D. João II, Mestre José Sapateiro e o rabi Abraão, que Afonso de Paiva tinha falecido algum tempo antes, sem deixar qualquer testemunho da sua missão. Por aqueles emissários do rei, ficou também a saber, que não poderia retornar a Portugal sem alcançar o reino do “Preste João”, pelo que na companhia do rabi Abraão viajou até Calecut, Goa e Ormuz. E daí para outras paragens. Acabando por encontrar em 1493, um reino cristão na África Oriental, cujo nome do seu chefe era Eskender e não João, e usava o título de Négus em vez de rei, o que é natural, dado que o nome de “Preste João” não era mais do que um título simbólico do mito.

Contudo, aquele emissário do rei D. João II veio a descobrir, tal como Marco Polo o descobrira um século antes, que o Négus Eskender tinha poucas semelhanças com o “Preste João” das histórias e das lendas do seu tempo, não obstante o esplendor que encontrara na sua corte. Na verdade, à semelhança com o que vinha sucedendo aos vários emissários europeus, não lhe fora permitido deixar a corte de Eskender, como também não lhe fora permitido enviar relatórios ao seu rei. Dir-se-ia que o “Preste João” temia que na Europa se soubesse que o seu reino não era afinal tão esplendoroso como aquela especulava. Não obstante de ser um prisioneiro, Pêro da Covilhã foi acumulado de honrarias e passou a gozar de uma grande influência na corte da Abissínia.

Porém, no tempo do négus Lebna Denguel (Incenso da Virgem) (1508-1540), devido a uma série de escaramuças com as potências islâmicas da costa, levou a que a regente Helena, uma princesa muçulmana convertida, mandasse um mensageiro estabelecer relações diplomáticas com o reino de Portugal, Mateo, o Arménio, o qual veio a ser em Lisboa humilhado e maltratado, sobretudo pelas suas práticas religiosas. No entanto, por consequência deste contacto, já há muitos séculos esperado, resultou numa embaixada chefiada por D. Rodrigo de Lima. Apesar da grande importância do acontecimento, parece que os portugueses foram acolhidos sem grande entusiasmo, segundo as más línguas daquele tempo, Lebna Denguel teria ficado decepcionado com os magros presentes da Europa. Como também através da mesma fonte se sabe, que quando lhe mostraram a representação do pequeno reino de Portugal, aquele monarca comparando-o com o seu reino e, ficou consternado com a sua pequenez. Todavia, daquela embaixada resultou que aquele monarca tivesse aceitado ceder Massawa como base naval de Portugal, como também prometeu a sua aliança contra os Muçulmanos. Por curiosidade, também se sabe que pediu a Portugal em contra partida desta concessão, artesões e médicos, o que não deixa de ser relevante, dado que naquele tempo, um governante europeu teria pedido armas e riquezas.

Por outro lado, Quando em 1520, Francisco Álvares cronista da referida embaixada chefiada por D. Rodrigo de Lima, chegou à corte do négus da Abissínia, Pêro da Covilhã ainda lá vivia, agora casado com uma esposa etíope e com família própria. Pêro da Covilhã só viria a morrer alguns anos mais tarde, ainda disfarçado de mercador e ao serviço do rei de Portugal.
Na verdade, foi o padre Francisco Alves quem escreveu a dar a notícia completa sobre o reino do “Preste João”. E, com esta notícia, o cronista da embaixada de D. Rodrigo Lima deu a estocada final à lenda do “Preste João” e anunciou o início das relações diplomáticas com aquele reino. Aliás, relações, que foram sempre acompanhadas duma forte acção missionária, a fim de trazer de volta aquele povo ao seio católico. Porém, foi a partir daquela embaixada, que a Europa viera a decidir, que os imperadores da Abissínia seriam os “Prestes João” tão procurados pelos europeus. Os quais, não deram mostras de se importarem com a atribuição de tal título, uma vez que muitos chegaram a assinar as suas cartas com o nome de "Preste João".

Porém, apesar do padre Francisco Alves alegar que Pêro da Covilhã cumprira a sua missão e fizera tudo quanto D. João II lhe exigira fazer, é muito pouco credível que Pêro da Covilhã tenha conseguido fazer chegar ao rei português as informações vitais para o plano da Índia, uma vez que quando Vasco da Gama chegou a Calecut, o Samorim era muito mais rico do que os portugueses esperavam, e aquele monarca estava habituado a receber ofertas muito mais valiosas do que aqueles supunham.

O Povo que mais se destacou na procura do Mito

O Povo que mais se destacou na procura do Mito do “Preste João”

De entre todos os povos que foram acometidos pela febre da procura do reino do “Preste João”, o povo português foi de entre todos os povos, o que mais se destacou. Chegando mesmo em 1415, a preparar uma pequena força expedicionária, de cerca de 45.000 homens e mais de 200 velas, que sob o comando de Duarte, Pedro e Henrique, 3 dos 5 filhos de D. João I e de D. Filipa de Lencastre, zarparam de Lisboa com o fim de estabelecer no norte de África uma rota terrestre até ao reino do mítico “Preste João”.

A conquista do porto de Ceuta, foi sem dúvida um grande feito militar. Contudo, a conquista daquela praça do reino de Fez, só veio a provar aos portugueses que não havia qualquer possibilidade de abrir uma rota terrestre que os conduzisse ao reino do “Preste João”.

Na verdade, a vastidão do deserto do Sara, a ferocidade que os mouros mostraram em combate, as técnicas de guerrilha usadas pela sua cavalaria ligeira que de longe dizimavam as fileiras Lusas e, até mesmo, pelo armamento das tropas Lusíadas, pesado e desadequado para aquele cenário bélico, foram factores determinantes para se concluir da gigantesca insensatez em alcançar por terra a parte mais Oriental da África.

Mas, se dúvidas ainda houvesse em alguns sectores mais conservadores da sociedade portuguesa de então, nomeadamente, naqueles sectores cujas mentes ainda estavam cristalizadas nos feitos da cavalaria de outros tempos, com a expedição de 1437 a Tânger, os portugueses obtiveram da pior forma a certeza, de que aquela impossibilidade era muito real, uma vez que aquela expedição às inóspitas terras do norte de África, fez com que as tropas Lusíadas, comandadas por D. Henrique, conhecessem o pior desastre militar em África, até à data da batalha de Alcácer-Quibir. A inabilmente de D. Henrique, que se deixou isolar da costa, e por conseguinte, ficou sem o apoio logístico que esta lhe proporcionava e, sem a capacidade táctica para poder escolher o campo de batalha, ou de poder retirar as suas forças de combate se este o desaconselhasse a refrega, foi cercado pelas hordas inimigas, que de longe rechaçaram as esperanças das imóveis e impotentes fileiras Lusas.

Com o orgulho português letalmente ferido, aquela derrota militar veio a marcar por muito tempo a economia do reino de Portugal e, em particular, veio a marcar dramaticamente a enclítica geração, uma vez que para D. Henrique poder embarcar o que restava das suas maltratadas forças de combate, teve que desonrosamente prometer às forças inimigas a paz e a restituição do porto de Ceuta. Pelo que como penhor da sua palavra, teve que entregar aos vencedores o seu próprio irmão, o Infante D. Fernando, o qual, por falta de cumprimento do que fora por si firmado, viria a morrer no cativeiro.

Assim, com o trágico fim da “cruzada” Africana e, com a consequente ruína nos cofres do reino e a penúria das nobres famílias portuguesas, os estrategas daquela ousada aventura viriam a concluir, que a existir um caminho que conduzisse os portugueses ao reino do “Preste João”, só poderia ser por mar, contornando a África e, nunca por terra. Pelo que depois daquela frustrada campanha no norte de África, todo o património humano e material da casa senhorial de D. Henrique e da Ordem de Cristo em particular, foi colocado ao serviço do projecto dos Descobrimentos marítimos portugueses.

Projecto que já estava em curso, uma vez que em 1419, D. Henrique Na qualidade de Governador da Ordem de Cristo tinha mandado João Gonçalves Zarco reconhecer a ilha de Porto Santo, e em 1420, tinha mandado Tristão Vaz Teixeira reconhecer a ilha da Madeira e, mais tarde, em 1427 tinha mandado reconhecer os Açores.

Na verdade, estes reconhecimentos dariam início à grande gesta portuguesa que viriam a engrandecer os anais pátrios.

Todavia, o mais importante e o mais promissor para o reino e para a Ordem de Cristo em particular, não foi o reconhecimento daquelas Ilhas atlânticas, que já se sabia existirem, mas sim, a alteração da estratégia de exploração marítima, a qual passou a centrar-se na navegação à vista das arenosas costa do norte de África, a fim de se descobrir a tão ambicionada rota que conduzisse os portugueses ao reino do “Preste João”. Contudo, dado a fragilidade que as barcas de vela redonda apresentavam em mar alto e, sobretudo, a pouca autonomia que estas possuíam em provisões, uma vez que a navegação com este tipo de navios, só poderia ser feita com os litorais à vista, ou não muito distantes.

Para uma navegação junto das desérticas e desconhecidas costas, era necessário um outro tipo de navio, que fosse mais poderoso em armamento e, que tivesse uma maior autonomia e adaptabilidade às missões específicas de descobrimento e de exploração. Pelo que para suprimir esta imperiosa necessidade dos nautas latinos, os cientistas portugueses desenvolveram a “caravela latina”, a qual, foi um poderoso navio com dois mastros de pano latino, uma coberta e um pequeno castelo de popa, com um só piso e, com cerca de 50 tonéis de arqueação. Pela sua versatilidade, a “caravela latina”, tanto pela facilidade com que bolinava, como pela facilidade com que navegava junto à costa e entrava em embocaduras de rios, veio a notabilizar-se como sendo um navio ideal para singrar em mares bravios e desconhecidos.

Na verdade, a “caravela latina” combinava a capacidade de poder levar os seus tripulantes até mais longe, com a autonomia adequada àquelas inóspitas regiões que explorava. Em face a esta demonstrada performance, a “caravela latina” veio a ser o maior navio até então empregue nas viagens de descobrimento e, aquele que tornou possível tal feito náutico.

Por outro lado, apesar daqueles navegadores possuírem a “caravela latina” e estarem na posse dos segredos náuticos da Ordem do Templo, que na verdade constituíam o seu verdadeiro tesouro, o projecto para os mais prudentes e para os mais avisados, parecia ser uma desmedida loucura, uma vez que não havia tecnologia segura para se navegar num oceano aberto e desconhecido, como também não se dispunha de conhecimento de orientação para se navegar no Hemisfério Sul, dado que naquela época, só o céu do norte se encontrava cartografado. Por outro lado, os navegadores acreditavam que os mares do Sul estavam habitados por gigantescos terriveis monstros.

Assim, de onde teria vindo a informação de que era possível encontrar um novo caminho para o Oriente? Sem dúvida, que este conhecimento era um dos segredos templários, que muito provavelmente fora adquirido durante as cruzadas, uma vez que para além daqueles se especializarem no transporte marítimo de peregrinos para a Terra Santa, mantiveram intenso contacto com os viajantes de toda a Ásia.

No entanto, apesar de naquela época a tecnologia náutica ser rudimentar e pouco precisa e, por consequência, transformar a ousadia de enfrentar os mares desconhecidos como uma utopia e um sonho para os mais prudentes, D. Henrique manteve sempre uma grande persistência na descoberta de rotas marítimas que conduzissem os portugueses ao lendário reino do “Preste João”.

Tal persistência, leva-nos a concluir, que provavelmente aquele Infante tivesse na sua infância escutado as fantasiosas narrativas sobre aquele lendário e distante reino. E muito provavelmente, através dos relatos dos mercadores, ou talvez, muito simplesmente através dos interrogatórios que foram feitos aos prisioneiros muçulmanos, os quais, não deixariam de falar dos grandes reinos negros a sul do grande deserto.

Assim, provavelmente, por esta via oral, D. Henrique tivera conhecimento que existiam grandes reinos para lá do grande deserto, os quais, bem poderiam ser reinos que prestavam vassalagem ao mítico rei “Preste João”, pelo que durante toda a sua vida, o Infante passou ardentemente a desejar alcançar aquelas longínquas e míticas regiões. Pois, pretendia estabelecer alianças com o reino cristão do “Preste João”, para na retaguarda do inimigo criar uma outra frente de batalha. Na qualidade de Governador da Ordem de Cristo, pretendia ainda com a ajuda daquele reino cristão, pôr fim ao monopólio muçulmano das especiarias, e colocar novamente Jerusalém em mão cristãs.

Com este sonho de servir Deus e ao mesmo tempo servir o reino de Portugal sempre presente, passou a ser usual, quase numa forma de expressão de despedida, pedir aos seus navegadores que zarpavam para o mar desconhecido e misterioso, que lhe trouxessem notícias daquele lendário e distante reino.

No entanto, não deixa de ser curioso, que o facto de já terem passado muitos séculos, desde que pela primeira vez se ouvira falar nas terras Lusíadas do “Preste João” e, que naturalmente, pela imperativa lei da vida, aquele já não se encontrasse entre os vivos, não teve qualquer importância, nem para o Infante D. Henrique, nem para qualquer um dos seus cavaleiros, uma vez que continuaram sistematicamente a procurar aquele mítico monarca. Pelo que tal procura parece ter sido influenciada por algo de muito transcendente que parecia empurrar os portugueses para o cumprimento duma missão, que parecia estar para eles talhada por desígnios divinos e transcendentes.

Assim, os portugueses imbuídos duma celestial vontade e dum férreo querer, metodicamente a régua, a esquadro e a compasso, traçaram na cartografia do mundo as suas expedições atlânticas, as quais, a bom ritmo vieram a suceder umas após outras.

Na verdade, cada viagem passou a ser uma lição de arte de bem navegar. Ano após ano, comandantes e tripulações tomavam conhecimento cada vez mais pormenorizado dos ventos, das correntes e, das marés. E, assim, por muito tempo, continuaram os portugueses na busca da suprema perfeição. Décadas depois do reconhecimento das ilhas atlânticas, já os navegadores portugueses sabiam com inaudito pormenor onde havia baixios, onde geralmente havia calmarias, onde os navios seriam arrastados para o largo e onde os ventos costumavam soprar pela proa, ou pela ré.

Por outro lado, para além do pormenorizado conhecimento geográfico que aos poucos iam adquirindo, os nautas aperfeiçoaram também os instrumentos de marear, uma vez que levavam consigo instrumentos para sua orientação, que souberam melhorar e aperfeiçoar, o que lhes veio a proporcionar cada vez mais confiança e mais ousadia no desconhecido.

Assim, cada navio que zarpava de Lagos, embarcava com ele também a ambição de avançar mais umas léguas para Sul. Embarcava com ele também, o desejo de descobrir novas terras e novas culturas. E acima de tudo, embarcava com ele a ambição das muitas e fabulosas riquezas que os esperavam no lendário e mítico reino do “Preste João”.

Porém, o notável e revolucionário feito da epopeia marítima portuguesa, foi de que a bordo dos navios de Portugal passou-se a tomar nota dos vários pormenores geográficos que iam sendo verificados, os quais, por sua vez, iam sendo acrescentados, ou iam sendo corrigidos nos mapas já existentes.

Nas viagens marítimas foi também prática corrente, dar-se um nome ao local que fora descoberto, que muitas das vezes correspondia ao santo do dia, ou ao nome de quem se pretendia homenagear, ou até mesmo, ao aspecto natural da paisagem. Como foi o caso da ilha do Príncipe, da ilha de S. Tomé, ou ilha da Madeira, ou até mesmo quando Dinis Dias chegou ao cabo verde.

Mas, para que esta explosão e ânsia de conhecimento fosse uma realidade que atingiu todo um povo como se fosse uma estirpe altamente contagiosa, foi necessário armar os navios que zarpavam à descoberta de novas terras e de novos caminhos marítimos. E para isso, foram necessários fenomenais investimentos dum reino que fora devastado por uma guerra fratricida, e que havia sido empobrecido pelas aventuras africanas. Pelo que tal investimento só poderia ter sido realizado pela riquíssima Ordem de Cristo, dado que construir caravelas, aparelhá-las com os necessários equipamentos e apetrechos de marear, fornecer provisões para muitos meses de mar, remunerar convenientemente a tripulação, e compensar todos os cientistas que em terra lhe davam cobertura e apoio, era necessário grandes somas de dinheiro de que a coroa portuguesa não tinha. É certo também, que a corte portuguesa prestou toda a cobertura a tais iniciativas, uma vez que a própria Ordem de Cristo se confundia com a própria corte de Portugal.

Assim, para além dos homens e, dos mais variados meios e facilidades jurídicas, a corte de Portugal concedeu o exclusivo da navegação e do comércio abaixo do Bojador ao Infante D. Henrique. Contudo, apesar daqueles negócios, ou tratos como então se dizia, serem bons para os seus interventores, consta-se que o Infante morreu muito endividado.

Na verdade, em face do desconhecido, foi a Força Lusa que levou os portugueses a serem abnegados e ousados. Foi a Beleza Lusa que incentivou os portugueses a procurar o mítico reino do “Preste João”, novas terras e outras culturas. Mas, acima de tudo, foi a Sabedoria Lusa, que fora herdada dos mistérios do Templo, que permitiu a concretização de toda a epopeia marítima dos Descobrimentos. Sem esta trilogia, nunca teria sido possível realizar a grande gesta Lusitana que muito contribuiu para o fim da Idade Média e para o engrandecimento de Portugal.

Os Primeiros Contactos com o Reino do "Preste João"

Os primeiros Contactos com o Reino do “Preste João”



Com o avanço da ciência cartográfica, nos finais do século XIV, o reino do “Preste João” já não se localizava na Ásia, mas sim na África, precisamente na Etiópia. Giovanni de Carignano, cartógrafo genovês que no período entre 1291 e 1329 desenhava mapas, foi a primeira autoridade a afirmar que o reino do “Preste João” se localizava na África e não na Índia, como até então se pressupunha ser a sua localização. Feito notável, se tomarmos em consideração que apenas à distância dum século, Marco Polo na descrição que fizera das suas viagens (1271-1275), referiu que procurara o reino do “Preste João” na Ásia, e que o tinha localizado nas estepes da Mongólia. Aliás, chegou mesmo a identificá-lo como sendo um dos Cãs daquelas estepes, cujo povo tártaro, estava já em franca decadência, uma vez que eram fracas as reminiscências do seu antigo esplendor, claramente ofuscadas pelo brilho da corte de Kublai Khan a quem a aquele povo prestava vassalagem.

Por outro lado, o longo isolamento a que a Abissínia esteve sujeita, terá sem dúvida alimentado as fantasias e as especulações. No entanto, tal isolamento não impediu que se estabelecessem alguns contactos pontuais entre peregrinos europeus e etíopes, nomeadamente na Terra Santa e, se fizessem esporádicas visitas de missionários católicos à Abissínia.

A primeira embaixada oficial de que há conhecimento, foi a embaixada enviada pelo papa João XXII, a qual, chegaria à Abissínia apenas em 1316. Pelo que a partir daquela data, começaram a chegar à Europa relatos fascinantes sobre aquela região, que não mais deixaria de ser referida como a “Terra do Preste João”.

Assim, a Europa ficou a saber da existência de impressionantes basílicas chapeadas a ouro, como ficou a saber da localização do túmulo do apóstolo Tomé, em Meliapor.

A confusão gerada nos europeus, sobre a localização destas duas regiões, naquela época até tinha alguma razão de existir. Pois, ambas ficavam “para as bandas do Oriente”. E tanto mais que para se chegar a qualquer uma daquelas regiões, era necessário atravessar um “grande deserto arenoso”, fosse ele o Sahara, o Arábico, o Negev ou as grandes estepes asiáticas.

Por sua vez, foi na primeira metade do século XV, que o imperador Yechak conseguiu estabelecer relações diplomáticas com os soberanos europeus, entre os quais, com D. Afonso V de Aragão, propondo-lhe uma aliança contra os árabes. Mas, pelo facto de se ter verificado um acentuado alívio da ameaça islâmica, o interesse daquele reino numa possível aliança, foi muito reduzido, ou quase nulo. Seria outro pequeno reino situado no extremo sudoeste do continente europeu a reacender o interesse na procura do reino do “Preste João”. Portugal!

E, nele, a Ordem de Cristo, herdeira das tradições e saberes dos Templários, um verdadeiro estado dentro do próprio Estado, viria a considerar o reino do “Preste João” como sendo a autentica Terra Santa do esoterismo medieval, o centro espiritual supremo do mundo. Aliás, uma visão que mostrava o estado de angústia em que a Ordem se encontrava e, a urgência que aquela sentia na procura espiritual dum Graal que se afastava do Ocidente e, que por outro lado se ia perdendo de vista a natureza profunda desse mesmo Graal.