A Utopia do Mito
Não há dúvida, que para uma época onde o real se confundia com o mundo imaginário, as utopias narradas naquela carta prendiam a atenção e a imaginação de qualquer leitor. E tanto mais que algumas utopias versavam o que as populações mais queriam ouvir, nomeadamente, mistério, riqueza e o fantástico, como seja o facto:
Daquele monarca possuir um imenso e forte exército. Que, transportava treze grandes altas cruzes, feitas de ouro e de pedras preciosas e, que atrás de cada uma delas, seguiam dez mil soldados e cem mil peões armados (Carta do Preste João das Índias. Versões Medievais Latinas, 1998: p. 82).
Não há dúvida, que para uma época onde o real se confundia com o mundo imaginário, as utopias narradas naquela carta prendiam a atenção e a imaginação de qualquer leitor. E tanto mais que algumas utopias versavam o que as populações mais queriam ouvir, nomeadamente, mistério, riqueza e o fantástico, como seja o facto:
Daquele monarca possuir um imenso e forte exército. Que, transportava treze grandes altas cruzes, feitas de ouro e de pedras preciosas e, que atrás de cada uma delas, seguiam dez mil soldados e cem mil peões armados (Carta do Preste João das Índias. Versões Medievais Latinas, 1998: p. 82).
De existirem no seu reino seres fantásticos: nomeadamente, “bois selvagens, sagitários, homens selvagens, homens com cornos, faunos, sátiros e mulheres da mesma raça, pigmeus, cinocéfalos, gigantes, cuja altura era de quarenta côvados, monóculos, ciclopes e uma ave que chamam Fénix, bem como, quase todo o género de animais que existem debaixo do céu.” (Carta do Preste João das Índias, p. 56).
Do “Preste João” ter um aspecto jovem, “apesar de ter então 562 anos de idade” (FRANCO JR., 1992: p. 39-40), porque banhava-se na Fonte da Juventude. A carta chegava mesmo a situar a Fonte num bosque, no sopé do monte Olimpo, não muito longe do Paraíso “de onde Adão e Eva foram expulsos”. Dizia ainda aquela carta: que “se alguém beber em jejum três vezes daquela fonte, a partir desse dia nunca mais sofreria de qualquer doença e seria sempre, enquanto vivesse, como se tivesse trinta e dois anos de idade” (Carta do Preste João das Índias, p. 64-66).
De naquele maravilhoso reino não haver corrupção, guerras ou violência, o mal inexistia, uma vez que dizia também: “entre nós não existem pobres. Não existe entre nós nem roubo nem rapina, nem o adulador ou o avaro têm lugar aqui. Não há disputa entre nós. Os nossos homens abundam em todas as riquezas.” (Carta do Preste João das Índias, p. 76).
Ora! Uma lenda com estes ingredientes especulativos e fantásticos, assegurou para muitos séculos a existência do mito do “Preste João”.
Mas, qual seria o interesse do bispo Oto de Freising para divulgar um reino utópico e lendário? Ao ponto de falsificar a referida carta. Para obtermos uma resposta credível e aceitável das possíveis causas que conduziram à atitude do bispo alemão, para as descortinar, temos que mergulhar no contexto político germânico da época. Em primeiro lugar, temos que analisar as lutas internas que se travavam no Império entre guelfos e gibelinos. Aliás, termos que passaram para a história a fim de designar aqueles movimentos: “guelfo” os partidários do papa, e “gibelino” os partidários do imperador.
Outra questão importante que se deve também analisar, foi a disputa que houve entre Frederico I e o papa Alexandre III, sobre a questão das Investiduras, a qual, de um modo geral, veio a originar no período de 1075 a 1122 uma grande crise entre as Monarquias europeias e o papado, que assolou as relações entre os homens.
Assim, todas estas questões e disputas entre o imperador e o papa, fizeram do mito do “Preste João” um importante instrumento político nas mãos de Frederico I (FRANCO JR., 1994). Pois, aquele monarca para os seus interesse políticos, necessitava de um apoio espiritual superior ao papa, e que ao mesmo tempo, fosse também um suporte mental que desse legitimidade às suas pretensões dum grande Império contra o poder papal (DUFFY, 1998: p.108-109).
A lenda do “Preste João”, era na verdade a oportunidade que Frederico I esperava, uma vez que aquela tinha elementos que projectavam aquele lendário monarca até ao nascimento de Cristo, mais especificamente na figura de Belchior um dos três reis Magos (FRANCO JR., 1994).
Assim, com a lenda do “Preste João” sedimentada em interesses imperiais, em 1177, o papa Alexandre III enviou ao “Preste João”, através do seu médico, mestre Philipus, uma resposta àquela sua suposta carta, onde respeitosamente lhe reprovava a jactância e o convidava a reconhecer no papa de Roma o único e legítimo sucessor do apóstolo Pedro. Nunca veio a saber se o “Preste João” recebera, ou não a sua missiva, dado que o seu emissário nunca regressou da viagem àquele mítico reino. Todavia, aquela misteriosa carta teria que ser uma mistificação, dado o seu conteúdo ser extremamente fantasioso e utópico. Contudo, a importância daquela epístola está no facto de ter alargado o leque das possibilidades para se localizar o lendário reino, uma vez que para além das utopias, referia também a sua localização nas “três índias”: Próxima Índia, Extrema Índia e Média Índia.
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